segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

# 15 Da Foz do Douro ao Príncipe Real

Nem todos me conheciam quando fui convidada para escrever um artigo na Cosmopolitan (sim a Cosmopolitan) em que partilhava a experiência de uma tripeira em Lisboa. Os que me conheciam leram o artigo, porque os obriguei ou porque encontravam a Cosmopolitan no cabeleireiro...(é fantástico como toda a gente vê a Cosmopolitan nos cabeleireiros e nunca sob espécie alguma a compram :))...Para quem não leu ou não se lembra, aqui fica....apesar dos anos que já passaram sobre o artigo (escrevi-o em 2005) e de Lisboa me ser cada vez mais familiar, há sentimentos expressos que nunca mudam.
Quis o destino que uma tripeira dos sete costados como eu, nascida e criada na orgulhosa invicta, e com o azul e branco tatuados no íntimo, viesse parar à grande capital do nosso pequeno país.
Deixei assim para trás a Foz do Douro, e rumei a Lisboa por causa do emprego que queria, e de um sonho profissional imberbe que estava ainda por se desenhar.
Uma migração forçada, com detalhes requintados, que me proponho a relatar nos parágrafos seguintes. Aos que me lêem com alguma atenção, faço já uma ressalva usando para tal as palavras do escritor alemão Goëthe “Posso ser sincero, mas não imparcial”.
Começo então por uma diferença incontornável entre Porto e Lisboa: o sotaque. Tripeira que é tripeira raramente passa despercebida na capital e, mesmo quando acha que não tem qualquer sotaque, há sempre quem se irrite ou se encante com a entoação aberta e até desbocada própria do Norte. Os homens, verdade seja dita, acham o sotaque do Porto sexy. Vá-se lá saber porquê, mas ser diferente sempre teve as suas vantagens. E há ainda um fantástico dicionário de tradições que me permite dizer trengo, cruzeta ou aloquete com a nítida sensação de estar a pronunciar um misterioso dialecto.
Ultrapassado este choque linguístico, que tem até muita piada e um certo charme, instala-se em mim o primeiro de muitos momentos nostálgicos. A nova rotina transporta um sentimento de desterro inevitável. A confeitaria onde compro o pão não é a de sempre, o carro não anda em piloto automático, a família e os amigos não estão à distância de alguns minutos. De repente, sou uma migalha na grande capital que simultaneamente me acolhe e me estranha. Já não sei se vale a pena largar o meu património, e nem mesmo tenho a certeza se sou capaz de conquistar sozinha o meu lugar. As saudades berram em cada esquina e só penso em voltar ao ninho, ao ponto de partida de toda a minha história.
Mas, subitamente, uma calma divina apodera-se do caminho e traça a rota, uma rota que começou no Porto e que vive agora no Príncipe Real. Olho à volta e sinto em cada rua, em cada janela e em cada pessoa, um tesouro que desvendo e acrescento às minhas origens. Tudo perde a sua estranheza e começa a fazer parte de um todo que não conhece fronteiras, nem sotaques, nem rivalidades.
Da Foz do Douro ao Príncipe Real separam-me agora apenas 3 horas de viagem que se unem na saudade das pessoas, das histórias e das memórias. Da Foz do Douro ao Príncipe Real as diferenças esbatem-se e as cidades tocam-se irremediavelmente, num bem estar que me dá muito orgulho, e que me torna, agora e sempre, numa embaixadora tripeira!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

# 14

Este fim de semana passou a chover. Não houve um minuto a seco e as janelas foram massacradas todo o dia com gotas e gotas intermináveis.
É bom quando chove assim; limpa-se a alma e descansa-se, porque não nos é permitido fazer muito mais.
E que bom que é estar nos mimos dos pais enquanto lá fora o tempo dá-nos tudo menos mimo.