segunda-feira, 21 de setembro de 2009

#4 O meu jardim

Todos os dias, à distância de umas passadas, encontro o meu jardim.
Circularmente preenchido por árvores e um verde apaziguante, nele encontro apressados homens de negócios, jovens mães tranquilas, cães agitados orientando os donos, estudantes que riem irresponsavelmente ou ainda solitários que, tal como eu, julgam que o jardim é só deles.
Nele encontro uma sensação de regresso, de conforto e de casa, num súbito silêncio em pleno centro da cidade.
Enquanto passo sem entrar, sei bem o que ele esconde e como a vida se descobre por entre bancos e pessoas, por entre as mais estranhas e enigmáticas árvores - a mais misteriosa cobre aliás parte do jardim como um véu surpreendente que envolve em sons e em ramos quem lá passa.
Enquanto passo sem entrar, sinto-me estrangeira na minha própria terra, porque sei que é ali que encontro mais do que sou.
Enquanto passo sem entrar, sei que é o princípio de mais um dia e que nada falha no meu alinhamento cósmico.
Enquanto passo sem entrar, sei que vou voltar e que ele ali me espera no alto da sua realeza para dar o melhor de si. E quando entro sei que cheguei ao destino e que as palavras são impronunciáveis.
E confesso que, quando por vezes fecho os olhos e peço a mim própria 'happy thoughts', é ele que surge, cumprindo sempre o papel não de príncipe encantado, mas de príncipe real.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

#3 Cansaço

Este é o meu primeiro post com título e assim o é porque sinto que a redundância do cansaço passa também pelas palavras. A noite foi mal dormida e o fim de semana foi de tal forma intenso que a 2ª feira acordou pesada e a pedir que o dia fosse passado na horizontal.
Cheguei ao escritório e duas bombas assolaram a sala: o colega antigo que se despede e o colega novo que ocupa um lugar até agora familiarmente vazio. A cabeça não está a conseguir lidar com tanta informação, mas a educação e o profissionalismo pedem a atitude simpática que às vezes tanto me custa a ter. As horas vão passando e a cabeça vai crescendo. Vai crescendo a dor, o desconforto e, provavelmente, o tamanho. Ao longo do dia, as letras no computador dançam e a dor de cabeça dá lugar a um profundo estado de embriagamento. Ou melhor a dor de cabeça não dá lugar a nada, apenas se intensifica e entra em estádios jamais imagináveis.
Decido ir embora e o caminho para a casa tem hoje 200 km. Sentada no metro, tenho a certeza que não me vou conseguir levantar quando chegar à estação. Olho à volta e penso quem me irá ajudar, quem me irá arrastar para fora da carruagem. Eu própria o faço. Faltam ainda 100 km, que faço em dificuldade com a certeza de que em breve a minha cabeça vai explodir, ridicularizando qualquer efeito especial do Matrix.
Chego a casa e só tenho uma direcção: sofá. Deito-me. Estou finalmente na horizontal e sei que o pensamento matinal estava correcto: este devia ter sido o meu estado todo o dia.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

#2

Não gosto quando me respondem mal. Aliás, ninguém gosta, e esta afirmação é de tal foma la palissiana que vou recomeçar.
Não gosto que me contrariem...esta frase sim é mais verdade. Preciso de explicar? Ou é um sentimento universal que invade o mais banal e ridículo dos homens?
Os debates políticos estão aí ( e by the way, esses sim não gostam de ser contrariados) e perco-me na retórica rebuscada e na insistência nos números e nas tecnocracias...Era suposto ficar esclarecida, redefinir opiniões, conseguir manter uma conversa adulta sobre esquerda, direita e propostas de governo...mas acabo muitas vezes mais confusa, sem distinguir o filme da vida real e sem perceber se estou diante de uma representação digna de Oscar ou de uma verdadeira inspiração ideológica....se calhar, não estou intelectualmente preparada para assistir a estes debates, mas estou intelectualmente preparada para votar...vá-se lá saber porquê.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

#1

Dizem que escrever é um alívio...para mim muitas vezes se assemelha a um martírio, imposto diariamente ao soar da hora certa...Dizem que quando se escreve se partilha e, na minha alma entorpecida e imperfeita, - ou torta para fazer jus ao blog - cada palavra é o eco de vidas, de personagens e de ficções que aqui mostrarei à luz de todos os martírios e alívios!